terça-feira, novembro 23, 2010

FOREVES YOUNG

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Essa aconteceu com a Raquel (Diário de Solteiro)

Uma vez saí com um rapaz. Ele me abordou gentil e sutilmente, às 6 da matina, em uma loja de conveniência em um posto de gasolina. Trouxe-me um sonho de valsa e muitos elogios. Conversamos por vários minutos e pediu meu número de telefone. Corpo atlético, alto, mãos grandes e bonitas, rosto de bebê Jonhson, fisioterapeuta. Dei o número. Quatro anos mais novo.
Conversamos por telefone durante uma semana, até ouvir o convite para sair. Enquanto resolvíamos onde ir, ele disse-me que estava em overtrainning – treinamento excessivo –, segundo ele, afastado do trabalho e sob efeito de analgésicos. Atravessava o morro da nova Cintra, depois de correr a orla da praia toda e puxar ferro durante hoooooras na academia. Eu não corro esse risco… no máximo ganho uma distensão por me posicionar errado no aparelho de ginástica.
Eu falei para deixarmos para outro dia, quando ele se sentisse melhor, mas insistiu em marcar aquela noite, então lá fui eu.
Até que estava animadinha, mas sei lá o que me deu, fiquei sem muita vontade e até arrependida de ter aceitado. Tentei muito em declinar, com aquelas desculpas de sempre e que achamos que cola, mas, se fosse comigo ficaria muito brava, resolvi ir.
Cheguei em casa em cima da hora para me trocar. Tomei banho, escolhi a primeira calça que apareceu no armário, a regatinha que olhou pra mim na gaveta, o salto preferido, rímel e batom, – amigos e companheiros de todos os dias – perfume e, fui.
Pediu para eu buscá-lo na orla da praia. Estranhei, mas busquei. Pensei que não tinha carro mas, vi descendo de um, quando estacionei ao seu lado. Entrou e me beijou no rosto, combinamos onde ir e guiei, conversando desanimada e desconfortadamente.
Não gosto nos primeiros encontros, em particular no primeiro encontro, pedir ao cidadão que me busque e nunca tinha ido buscar nenhum homem. Quero, se alguma coisa me desagradar, ir embora antes. Se eu não gostar do andamento da coisa, corro sem olhar pra trás.
Fiz meu pedido ao garçom, chopp, ele escolheu a bebida dele, água, pois estava em dieta. Não estranhei, pois meu ex-marido não bebia nada alcoólico.
Conversamos um pouco e… o rapaz escorregou no tomate, meteu o pé na jaca, nos primeiros minutos. Erro número um: disse que ainda estava ligado na antiga namorada.
Tem algo mais deselegante que falar sobre ex no primeiro encontro? Acho que ele fugiu da aula onde dizia ser proibido tocar no nome de ex qualquer, principalmente no primeiro encontro. Humpf! Eu sabia. Quando a esmola é demais…
Fiquei mais desanimada. Desce mais um chopp. Conversa vai, conversa vem e… erro número dois: afirmou que TODAS as mulheres só querem o dinheiro dos homens! Coitado… Não tá dando um dentro, pobrezinho. Quem me conhece sabe de meu histórico feminista. Tsc, tsc, tsc. Erro fatídico.
E era tão bonitinho o moço… Bom, pensei comigo, melhor dar uma chance a mais para ele. Quem sabe a conversa melhora. Afinal, todos os homens são machistas! Quem sabe ele é menos machista. Quem sabe ele nasce de novo!!
Revidei com argumentos que o deixaram meio zonzo, até achei que o enfureceria e com isso o encontro acabaria, mas quê! Ele só fazia elogiar mais e mais minha aparência e minha suposta inteligência (vindo dele, nem era muito elogio, risos). O esquisito é que ele estava inquieto na cadeira, a noite toda.
Mais um chopp, por favor! No caso dele as mulheres não deviam ser interesseiras. Deviam é beber mais!!
Mais conversinha banal, vazia, insossa. Um rapaz agradável aos olhos e, como não tinha mais nada a fazer, fiquei lá, ouvindo.
Resmunguei que precisava comer. Quando o cardápio chegou, veio junto o erro número três, o tiro de misericórdia.
- Preciso contar uma coisa… – falou o indivíduo.
- Diga. Não sei se quero muito saber…enfim…
- Estou sem graça…
- Por que? Fala! Que que houve?
- É que estou fazendo uma dieta, como já disse, e acho que aqui não há muita coisa que eu possa comer…
- Bom… Leia e escolha, pois eu como até jiló. Falei, já perdendo a paciência.
Olhamos o cardápio, mas sequer passou pela minha cacholinha perguntar o motivo da dieta. Deduzi ser pelo excesso de treino – proteínas e vitaminas, sem gordura e, obviamente, um boteco não é lugar de comidinha sem gordura. Mas ele, inconformado com a minha falta de curiosidade, resolveu acabar com o restinho da noite e entornar o caldo de vez.
- Eu preciso falar… gosto de ser honesto e não dá pra mentir num primeiro encontro…mas ó… você vai tê que me prometer que isso não vai atrapalhar nada, promete, linda? Afinal, somos da área da saúde e você vai entender… Será?!
- Bom, não prometo nada…mas estou ficando chateada. Fala de uma vez, pois não gosto de ser enrolada… Você é diabético? Hemofílico? Está em quimioterapia ou rádio? Fala, homem!!
- Não, nada disso…não sei se notou, mas estou me mexendo a noite toda na cadeira…
- Percebi sim…e que tem isso?
- …inclusive afastado da Santa Casa. E hoje vim te ver a base de tramal, intramuscular…vê que importância eu dei ao nosso encontro?
- Tá, mas o que você tem?? Fico lisonjeada com o esforço…
- E por causa disso, eu não posso comer várias coisas…
- Tá, eu já entendi…mas se não é nada daquilo que achei, o que você tem? Em tom furioso…
- Eu tô com um probleminha no meu Foreves Young
- Como?! Não entendi! Onde?!
- É… lá… no foreves… Rindo, como se tivesse alguma graça… E continuou: Na realidade, por causa do excesso de treino e pegar pesado na musculação, sabe o que acontece com quem treina demasiado, né?
- Sei, sim. Disse, muito brava e estupefata. – Geralmente os marombeiros acabam com hemorróidas…
- Pois é… estava constrangido em falar, mas sei que é da nossa área e que iria entender.
Vendo meu rosto, contrariada, começou a tentar reverter o constrangimento que estacionou na nossa mesa.
Bom, o que posso lhes falar? Perdi a fome com a imagem de uma hemorróida pululando na minha mente. Depois de não escutar o que ele dizia, pois só pensava na dita, fui ao banheiro, não sem antes dizer que queria a conta.
Só para fechar com chave de ouro, quando a conta chegou, ele empurrou, aberta, a caderneta mais para perto de mim – e eu só entendi dias depois -, dizendo em tom soberbo:
- Hoje é por minha conta!
Eu tinha que passar por isso!! Em plena quinta-feira, um homem atraente e lindo ao meu lado e deselegante ao extremo. Não sei também se é falta de elegância ou educação…talvez até de simancol.
Por isso digo: só comigo mesmo!